domingo, 11 de setembro de 2011

O Rei e o Bobo


Havia um velho rei
em um reino muito antigo
que ele pensava que existia,
mas era só em sua mente.

Como todo rei, tinha um bobo.
Um Bobo da Corte.
Talvez nem estivesse lá, já que não havia corte.

Mas em algum lugar,
dentro ou fora de sua cabeça,
o rei e o bobo conversavam.

O rei tinha medo do futuro
e perdia tempo com isso
da mesma forma que um dia perdera tempo
com suas esperanças todas no futuro.

Quando descobriu que não havia futuro,
ficou com medo
por que tudo que ele era,
ou achava que era,
estava lá adiante e não ia ser nem acontecer.

O bobo era ciente de suas obrigações.
Ele era a consciência do rei.
Era um bobo Shakespeareano e Rodrigueano ao mesmo tempo.
De uma grandiloqüência teatral afetada,
adequada a um autentico bobo.

O rei disse: “Eu tenho medo”.

“Mas você não é rei?” Retrucava o bobo
Não tem poderes de rei?”

O velho homem parou a pensar por alguns momentos.
Qual poderia ser o poder de um rei sem reino
e sem futuro?

“Não sei” Respondeu

“Essa é a resposta errada, seja qual for a pergunta”,
disse o bobo com um sorriso sinistro.
E continuou:
“Você tem medo de sua impotência, de sua decadência
e de seu fim”. “Não é diferente de ninguém”.

O rei ficou cabisbaixo.
Apesar de ser verdade, deveria haver algo mais.
Sua Real existência não poderia ser tão prosaica.

“Então eu não tenho nada,
minha vida toda foi um engano”.

O bobo não respondeu. Impassível.

“Eu não tenho nada, sou o rei do nada”.

“Então já é uma espécie de rei”. Disse o
bobo sarcasticamente.

“É... é alguma coisa” Considerou o rei.
E perguntou:
“E você? O que faz junto a um rei de nada?”

“Ora, Majestade, eu sou um bobo da corte”.

“E qual é a função de um bobo da corte
em uma corte de nada?” Perguntou o rei.

“A mesma função de todo bobo, ser a consciência do rei”
Respondeu.

“Mas eu não sou nada, não fiz nada”.
“Ou se fiz alguma coisa, não lembro”.

O bobo olhou bem dentro dos olhos do rei, e disse:
“Se você esquecer, eu te ajudo a lembrar”.

E chegando o rosto ainda mais próximo do velho rei,
o bobo disse:
“E então, Majestade, Não tens nada?”

O rei olhou intrigado para o bobo,
e após alguns momentos de meditativo silêncio disse:

“Você! Eu tenho a você!”

O sorriso sarcástico desapareceu da face do bobo
como que por encanto. Em seu lugar, agora tinha lágrimas nos olhos.

Então o bobo segurou a mão do rei,
como quem segura a mão de uma criança.
E com as lágrimas já escorrendo pelo rosto maquiado,
que agora ostentava um sorriso de bondade, generosidade e triunfo,
com a voz embargada de emoção disse apenas:

“Sim”

3 comentários:

  1. ... E o rei encontrou a paz... Ficou lindo!!! Adorei o blog. Estou na expectativa dos novos posts.

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  2. Muito bom... e eu que tenho sido a Rainha de nada e ainda por cima surda e cega... ganho coragem de resgatar a boba a sufocar dentro de mim...

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  3. Esse texto me deixou completamente louca por mais...QUERO mais daqui. Vou me embebedar de vocês!!!

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